A abertura do mercado asiático para a carne suína catarinense mudou um setor inteiro
Raimundo Colombo, empresário rural e ex-governador de Santa Catarina
Lembro como se fosse hoje, era início do primeiro mandato de governo, em 2011. Fui participar de uma feira de agronegócio em Braço do Norte. A equipe de segurança insistia para eu não entrar, pois havia um protesto de um grupo de produtores. Mas fiz questão de ver tudo de perto e entender o que acontecia. No lugar onde deveriam exibir os suínos, alguns produtores colocaram cruzes de madeira. Era um pedido de socorro, gastavam mais produzindo do que recebiam ao comercializarem os animais. Era um clima pesado, muitos relataram suas perdas com lágrimas nos olhos. Aquele foi o ponto de largada para trabalhar na proteção e promoção do setor, tão importante para o agronegócio catarinense.
Em diferentes momentos, ao longo do trabalho como governador, reduzi os impostos cobrados sobre a comercialização de suínos vivos. Mas era preciso fazer ainda mais. Precisamos abrir mercados. E para isso, fomos longe: para o Japão, um gigante comprador e excelente pagador.
Uma negociação longa, pois o Japão não negocia com um estado, mas com o país. Explicamos, com muita paciência e detalhamento técnico, o status sanitário diferenciado da época e o intenso cuidado nas barreiras. Deu certo, em junho de 2013 oficializamos a parceria com o Japão, o que impulsionou também a abertura para outros países importantes, principalmente para representantes do forte mercado asiático, como a Coreia do Sul.
O setor se recuperou, cresceu, consolidou-se na época como o maior produtor nacional de carne suína e bateu recordes atrás de recordes na exportação. Uma conquista que traz resultados até hoje e mantém Santa Catarina em evidência para o mundo. Em 2021, as exportações catarinenses de carne suína bateram novos recordes, resultado de um trabalho que começou lá atrás: foram embarcadas 578,52 mil toneladas, aumento de 10,5% em relação ao ano anterior. E as receitas apresentaram incremento ainda mais expressivo: US$ 1,40 bilhão, alta de 19,0%.
Mas temos novos desafios pela frente e é preciso continuar trabalhando. Éramos o único estado brasileiro com certificado de Área Livre de Febre Aftosa sem Vacinação, conferido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Em maio de 2021, outros seis estados brasileiros também receberam a certificação, inclusive os vizinhos Paraná e Rio Grande do Sul. Uma boa notícia para o país, mas mais concorrência para os catarinenses. O trabalho da Cidasc nas barreiras sanitárias e no rastreamento e identificação dos animais tem um histórico exemplar que precisa ser seguido à risca, e não enfraquecido, como está ocorrendo. Outra frente é o incentivo à produção de milho. A falta do grão é um gargalo que inibe o crescimento.
Existem ações de governo que não têm placas nem festividades, mas mudam a vida das pessoas. A abertura do mercado asiático para a carne suína catarinense mudou um setor inteiro.
Comments